Eles venceram e o sinal está fechado pra nós (?)

Matheus Abade
3 min readAug 21, 2020

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Foto: G1 (Globo)

Eles venceram

Falo sobre essa conclusão ao perceber que os números de mortos na pandemia, números exorbitantes, que gritam MIL MORTES DIÁRIAS e mais de CEM MIL MORTES desde o início da quarentena, não parecem mais nos afetar. Essa catástrofe numérica talvez seja uma anestesia via contagem. 1 ou 100 mil, continua sendo um número, e os números abolem os sentimentos, e mais ainda, os números não falam. Será que se contássemos as histórias por detrás desses números, algo mudaria?

Fico cético. Acho que mesmo assim eles venceriam. Venceriam pois eles querem apagar exatamente essas histórias e pior, apagar duas vezes: a primeira ao morrerem e a segunda vez no ato de transformar a história em número. O que todas essas vidas teriam a dizer? O que foi calado? Quantas vidas mais se calarão?

Eles venceram, e quem são Eles? Os fascistas? Os bolsonaristas? Os governantes atuais? Os genocidas? Os estatísticos? Os conservadores? Ou são apenas aqueles que ainda querem manter o mundo em um status quo? Quem são eles? Diria que essa vitória que aponto, é daqueles que querem silenciar. Silenciar histórias, silenciar mudanças, silenciar vidas. Fazendo isso em prol de coisas banais como lucro, dividendos, retomada econômica, e toda uma fábula do capital. Venceram na internet, venceram nas urnas e venceram ao jogar o país em um caos sem precedentes, que sim, poderia ter sido evitado, poderia ter sido diminuído, mas parece que a intenção era a situação que vivemos hoje.

e o sinal, está fechado pra nós(?)

Acho que ainda podemos ao menos nos interrogar sobre isso, estamos no amarelo ou no vermelho? Será que há um caminho, ou esse sinal já fechou? Não há nada que possamos fazer? Não há o que podemos mudar? Não há luta para lutar? Não há vida que podemos salvar? Nessa profusão de perguntas, as respostas ficam escamoteadas, e, mais uma vez, a sensação é de caos, pandemia, pandemônio.

Tenho alguma esperança. Acho que nós ainda podemos vencer. Algo resiste a esse apagamento, e isso resiste diariamente, isso fala, isso grita, isso pede socorro. Isso não pode ser contabilizado, isso tem algo a dizer e sempre o diz, mesmo escapando.

Nós podemos vencer. E quem somos nós? Os esquerdistas? Os lulistas? Os comunistas? Os humanistas? Os progressistas? Ou apenas aqueles que querem ver um mundo melhor? Quem somos nós? Diria que nós não somos, estamos derrotados por não ser, e assim ficamos silenciados. Estamos nessa posição, pois precisamos ser enquadrados em tipos ideais de consumo, nossa singularidade deve ser deixada de lado, mas a verdade é que: Somos histórias que precisam ser construídas, somos aquilo que fala mas que ainda não foi dito, somos o que insiste mesmo no silenciamento. Nossa batalha é contra algo muito maior que um governo, nossa batalha é contra uma ideologia, é contra tudo aquilo que nos impede de fazer aquilo de mais básico que nos torna humanos: falar.

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