2020 — Coragem, solidão e amor

Matheus Abade
2 min readDec 31, 2020

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Se me pedissem para resumir esse ano em três palavras, de acordo com a minha perspectiva, essas três palavras seriam: coragem, solidão e amor.

A coragem é algo que está presente em minha vida desde a minha infância, quando criança jogava Zelda e pensava “por que o Link tem a parte da coragem da triforce, e não a sabedoria ou o poder?”. Quando criança eu não entendia que poder sem coragem é tirania, e a sabedoria sem coragem é inútil. Em 2020, com a pandemia, resolvi ler Grande Sertão: Veredas, e, como uma fala de clichê, esse livro mudou a minha vida, foi uma verdadeira travessia. A palavra que se destacou dentre todas no livro foi Coragem. Riobaldo sempre repetia que “viver é muito perigoso”, mas o que mais importa é a resposta de Diadorim: carece de coragem. Foi aí, de rompante, que eu me lembrei de Zelda, me lembrei de toda a coragem que já tive na vida e de toda a coragem que deixei de ter, e assim, cheguei a conclusão de que é preciso tê-la para viver de acordo com aquilo que a gente quer, para ir atrás do que queremos e sair do conforto de uma vida covarde.

A segunda palavra, solidão, foi a que mais me tocou ao ler o livro Cem Anos de Solidão. Mas aqui o mais importante não é a palavra, mas o quanto ela pode significar, a solidão pode ser vivida de muitas formas diferentes, como nos ensina Gabriel García Márquez. Esse ano, passei pela solidão de um término, solidão do isolamento, pela solidão de deixar amigos para trás e pela solidão de não conseguir me comunicar com minha família. Além dessas solidões, também há outra, constituinte, a solidão de existir. Como o clichê de Donnie Darko, “toda criatura viva morre sozinha”, mas mais ainda, nascemos e vivemos sós. Somos condenados a anos de solidão, e para lidar com isso inventamos estratégias, truques e escapes. Tudo isso para tentar tampar um buraco impossível de ser selado.

A estratégia mais utilizada para isso é o amor. O amor é um tema que sempre atraiu minha atenção: o que é esse cão dos diabos? Amar, para mim, é um ato movido pela coragem. A solidão faz com que a gente procure alguém para amar, e nessa procura, às vezes encontramos, porém, o amor não é apenas o encontro. Coragem para amar é a coragem para aceitar a solidão que nos constitui, aceitar a própria solidão e a do outro, aceitar que sempre haverá ali um buraco, e que, estratégia nenhuma vai tampá-lo. E assim, podemos amar o outro, e amando, podemos mudar o mundo.

Não deveria ser tão difícil amar. Muita gente vê essa palavra quase que como um tabu. Com medo. Sem coragem. Se esse ano me ensinou uma coisa, foi a ter coragem para amar em meio a tanta solidão.

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